Lembranças de Coffee Square

Eu realmente não imaginei que você fosse aparecer naquela noite. E quando apareceu, não sabia o que fazer.

Até então, nunca tinha dado o primeiro passo. E sei que é só colocar um pé na frente do outro; mas o problema é que eu estava de salto. E às vezes é difícil pisar sobre pedras. Tinha medo de cair. Medo de te perder.

Meu coração parecia que tinha acabado de voltar de uma maratona. Não feliz, por ter vencido a corrida; mas triste, por ansiar sua resposta.

Nem eu sei de onde tirei toda aquela coragem do peito para te convidar para sair. Acho que daquela pequena gavetinha no meu coração, trancafiada com chave, que eu nunca tive vontade de colocar fora, caso algum dia precisasse...

E é isso! Naquele mesmo dia, às 19:35 de um sábado à noite, coloquei minha blusa branca da adidas, aquela calça jeans preta com os rasgos no joelho de sempre, o velho ~e preferido~ all stars vermelho-desbotado, aquele cabelo bagunçado com leves ondas e o batom nude-coral, que sempre me dava um ar mais confiante.

E simplesmente mandei a mensagem. “Quero te encontrar na praça daqui dez minutos. É importante”. Enviar. Agora não adiantava mais se arrepender. Só liguei o carro, e saí.

A brisa naquele fim de tarde era fresca. A praça, como em qualquer outro sábado à noite, estava cheia de pessoas conversando, caminhando, se beijando, correndo, e ainda algumas falando sobre a vida dos outros.

Eu nem reparei que tinha tanta gente em volta até você aparecer, na minha frente, com aquela camisa listrada que você amava usar, o tênis branco da Nike, que por incrível que pareça eu sabia precisamente a data na qual você tinha ganhado-o, e aquele olhar que só você tinha. A hh, aquele olhar! Como se você conseguisse enxergar no fundo da minha alma... absolutamente TUDO!

Tinha até decorado palavra por palavra do que eu diria à você naquela noite. Branco. Mais nada. Tinha planejado esse dia há tanto tempo! Não podia dar errado... Não agora! Tudo o que planejei simplesmente sumiu de minha mente. Você era a única pessoa capaz de me deixar em transe com um simples sorriso. Com uma simples olhada. Com o simples fato de estar ali, na minha frente.

Fiquei ainda mais nervosa com o fato de estar rodeada por tantas pessoas, mesmo que elas nem estivessem prestando atenção em nós. “Se for pra levar um fora, que não seja na frente de toda a cidade”, pensei. Convidei-o então para irmos em um lugar mais reservado. Dava para notar em sua feição o nervosismo também, mesmo ele nem sabendo o que eu iria falar. Mas, o engraçado é que ele estava feliz aquele dia. Mais do que o normal. Estranhei. Mas isso me encorajou; significava que ele não estava incomodado em sair comigo.

Dei um passo. O primeiro. O mais difícil. E me aproximei dele. Ele também deu um passo para frente. Respirei fundo. Encarei seu olhar penetrante. “Eu...ãhn...realmente não sei como falar isso. É como se todas as palavras tivessem fugido da minha cabeça”, comecei. Ele sorriu. Um sorriso curto, mas que pareceu ter durado uma eternidade. E então fitou o chão. Parecia também estar organizando as palavras em sua mente. Por um breve tempo ficamos calados.

E deu mais um passo. E outro. Estávamos à poucos centímetros de distância, mas não o suficiente para um beijo. E então, segurou de leve meus braços com suas mãos, e voltou a me encarar. “Eu realmente pensei em não vir... mas sei que se eu não viesse me arrependeria pra sempre!”, disse ele.

Olhei-o, confusa. “Então... por que veio?”, perguntei. “Porque eu também gosto de você!”, seu rosto corou um pouco ao dizer isso. E então, ele sorriu. Eu sorri também. Mas não falei nada. Estava tão em choque que não consegui dizer absolutamente nada! Pegou em minha mão. “O que acha de tomarmos um café no Coffee Square?”, ele perguntou. E eu apenas sorri. Com aquele sorriso de quem diz sim. Com aquele sorriso de quem está apaixonado. E com aquele sorriso de quem finalmente poderia estar com a pessoa pela qual desejou por tanto tempo!